Segunda-feira, 31 de Agosto de 2009

Câmara de LISBOA permitiu que sessenta autocarros por hora passassem junto a este café emblemático do Terreiro do Paço, afastando clientes e diminuindo receitas  
 
George Steiner, no seu livro, "Uma Certa Ideia de Europa", editado em Portugal pela Gradiva, dá-nos de forma eximia uma explicação cheia de sentido, de como os cafés e os espaços afins equiparados, ao longo dos séculos, deram um contributo inestimável para a construção da identidade europeia e de muitos dos povos e culturas dos vários países.  
 
Locais de encontro, de convívio, de partilha, de discussão, de alegria, de tristeza, de leitura, de reflexão, de escrita, de degustação, de bebida, de decisões relevantes e menos relevantes, os cafés moldaram (e em menor escala ainda hoje moldam) a nossa cultura, a nossa maneira de ser e de estar, a nossa língua, a nossa vida. O café (restaurante) Martinho da Arcada, aberto há mais de 200 é neste momento, infelizmente, bem o exemplo de como George Steiner deveria ser ainda mais lido e ouvido, para se perceber a necessidade de não deixar morrer pérolas não só gastronómicas mas sobretudo literárias e culturais do género. Espaços como este não podem, nem devem "morrer" como se fossem apenas e só mais um estabelecimento de restauração. Antes pelo contrário. A nossa sociedade (dita civil?) tudo deve fazer para mobilizar alguns dos poderes públicos que tenham na sua orbita de responsabilidades a possibilidade de não fazer o que foi feito pela autarquia de LISBOA - que foi na prática permitir que sessenta autocarros por hora passassem junto a este café emblemático do Terreiro do Paço, afastando clientes e segundo o seu proprietário dando origem a perdas de cerca de 40% das suas receitas.  
 
Esta semana, inicia-se um ciclo de tertúlias para mediatizar este problema do Martinho da Arcada. Com vários temas e personalidades. A primeira tertúlia será sobre a "Portugalidade de LISBOA". Outras se seguirão. O que importa é que o Martinho da Arcada seja salvo, revitalizando-o e que o seu "caso" e "exemplo" sirva para chamar a atenção de outros casos semelhantes ao seu. Para que por exemplo LISBOA tenha um roteiro de cafés, restaurantes e livrarias culturais, que se assumam como uma marca e um instrumento diferenciador a este nível. Para nacionais e estrangeiros.  
 
Só é pena é que ainda pouca gente acredite verdadeiramente nas obras de revitalização, do Terreiro do Paço que se vão iniciar em Setembro deste ano e só terminarão daqui a um ano.
Mas isso fica para uma outra oportunidade.

 

Feliciano Barreitas Duarte

Jornal Notícias, 31-08-2009



publicado por Diogo Moura às 16:33
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3 comentários:
De zé sequeira a 31 de Agosto de 2009 às 23:20
Confesso-me um dos tipos mais incultos que por aqui campeiam. Não pelo facto de ler pouco, aí, pelas minhas contas, em cinquenta e cinco anos de vida, já devo ter devorado entre sete a oito mil publicações , desde os "mosquitos", "cavaleiros andantes", "zorros", "falcões", "setes" e "cincos" da infância, até quase tudo o que - de nível e também porcaria - se tem publicado por esse mundo fora. Desde miúdo adquiri o hábito de conseguir ler em todo o lado. A minha mãe alcunhava-me com o simpático epíteto do "a comer e a ler", devido à singular utilização de um cesto de pão, virado de forma côncava, onde encostava sempre um livro. Sou é incapaz de citar frases de autores para alicerçar opiniões ou justificar posições. Embora respeite (e até admire) quem o faça, não sou capaz de ir por aí. Prefiro pensar e arriscar, mesmo correndo o risco de nada acrescentar.
Vem isto a propósito da importância dos cafés na "construção, etc... etc...". Parece evidente, mesmo para quem não cite Steiner , que os cafés foram (digo foram) muito importantes para a construção (ou destruição) de muitas e muitas coisas. Pela minha pele passaram vários: A Smarta , onde bebi ávida e reverentemente, entre outros, (ao vivo, que sorte...) a Natália e o Santareno, a Fórum, a Singapura, a Udina , o Trevi , a Paulistana e o Café Lisboa (nas suas duas versões), onde convivi com gente de cultura, a maior parte, reconheça-se, com uma saudável percentagem de loucura, consubstanciada num quase total desinteresse pelos bens materiais que, hoje, parecem comandar tudo e todos. Ora esses cafés só existiam porque morava muita gente na cidade. Hoje - não os condeno - preferem trabalhar ao almoço, para quem vem de fora, e fechar antes do jantar. É este paradigma, mais gente (especialmente jovem), a morar na cidade, que é urgente implementar. A agradável surpresa que foi o primeiro mandato de Pedro Santana Lopes, especialmente na tentativa de reabilitação humana do centro da cidade, onde o Casino no Parque teria sido a âncora importante para essa concretização, permite-me esperar que, com segurança, esse repovoamento irá ser assegurado. As tertúlias de café, até (e especialmente) no Martinho, serão uma bela consequência.

josé sequeira


De zé sequeira a 1 de Setembro de 2009 às 14:36
Caro Diogo
O que é que o autor quer dizer com estas obras?

"Só é pena é que ainda pouca gente acredite verdadeiramente nas obras de revitalização, do Terreiro do Paço que se vão iniciar em Setembro deste ano e só terminarão daqui a um ano. Mas isso fica para uma outra oportunidade.
"

São as mesmas a que Pedro Santana Lopes vai pôr cobro, em Outubro?

Já agora, porque é que não publica os comentários?

cumprimentos

josé sequeira


De Diogo Moura a 1 de Setembro de 2009 às 22:07
Caro Zé,

em Setembro, diz-se, ficarão prontas as obras no subsolo.

Parece-me que o que Feliciano Barreiras Duarte pretende dizer é que as obras à superficie, do Arquitecto Bruno Soares, não são do agrado da maior parte dos lisboetas e dos portugueses, pelo que certamente, com a mudança camarária, não terão lugar.


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